quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Cybermanos: Uma tribo da periferia

A música possui papel fundamental na formação cultural e nas experiências sociais dos jovens, principalmente nas grandes metrópoles. Na cidade de São Paulo, por exemplo, podemos identificar diversos grupos que se juntam por possuir um gosto musical em comum, como por exemplo, os Punks, os Metaleiros, os que gostam de Hip Hop, cada um mostrando um comportamento e se vestindo de acordo com a escolha de seu gênero musical. Pretendo falar aqui de uma tribo que surgiu a partir da música, os Cybermanos, que passaram a existir a partir de uma outra denominada Clubbers.

A cultura club surgiu a partir do consumo de música eletrônica (house, techno, jungle, trance e seus derivados). Os espaços sociais dessa tribo são os clubes noturnos e as raves. Visualmente os Clubbers possuem um visual característico onde predomina o colorido, o uso de muitos acessórios como pulseiras e colares extravagantes.

Tudo começou na Grã-Bretanha em meados de 1980, quando jovens começaram a se identificar com a música eletrônica. Esta cultura espalha-se por outros países e chega ao Brasil apenas na década de 90. Em São Paulo, houve um grande crescimento de casas noturnas adotando esse estilo musical. Segundo Cláudia Assef no livro Todo DJ já sambou: a história do disc-jóquei no Brasil, nasceram clubes como Nation e Sra Krawitz, que viraram referencia no lazer noturno dos jovens de classe média e alta da capital paulista. Moradores das regiões mais periféricas da cidade também aderiram a este gênero de musica, virando opção de lazer e constituindo espaços para ouvir um som, encontrar e conhecer novas pessoas.

Ainda em 1990, surge o grupo inglês The Prodigy, que exerceu grande influencia nesses jovens, principalmente pelo visual colorido, mas com referencias do Punk (visual mais agressivo, como o uso de moicanos coloridos). Esse grupo influenciou muito o nascimento da tribo deste post, os batizados como Cybermanos.



O cyber (de cibernético) mano (giria utilizada normalmente nas periferias) foi denominado assim por outros grupos, e pelos próprios Clubbers, por eles serem de regiões mais pobres e por não possuírem sempre um dinheiro para pagar a entrada nas casas noturnas. Além disso, os Cybermanos se diferenciam dos Clubbers também pelo visual mais agressivo, utilizando desde o visual do moicano e utilização do coturno (baseado no grupo The Prodigy, como dito acima).

Gilmar Varela, 33 anos, viveu no ápice da cultura Cybermano: “cresci vendo o rock ter seu auge, porém sempre fui fã incondicional de música eletrônica e suas infinitas variações, a mistura do rock/eletrônica nada mais é do que a trilha sonora das próximas gerações. Eu tive o prazer de estar anos à frente das grandes massas por já ouvir esse estilo musical e cultural com as bandas como Prodigy, Daft Punk, Chemical Brothers”. Ele saia da Zona leste para frequentar os clubes de música eletrônica do centro: “fiz centenas de amigos e amigas que juntos tinham o mesmo ideal que era curtir os momentos bons com uma boa música.”

Porém nem sempre os Cybermanos tinham uma vida sossegada. Várias outras tribos, principalmente os Skatistas, Skins e Rappers, sempre arranjavam briga com eles: “de 2000 pra cá os Cybermanos diminuíram bem, pois começou a rolar muitas mortes. Era briga todo fim de semana e por puro preconceito ou disputa de território mesmo” relembra Gilmar. “Antes éramos iguais a gangues, a gente tinha que sair de turma, porque se rolasse briga estávamos mais preparados, já que o jeito de cada um se vestir era bem identificado”. Para Gilmar as brigas entre tribos não acabaram, mas diminuíram, já que hoje em dia as pessoas possuem gostos ecléticos. "Ainda existem sim [os Cybermanos], mas não nos moldes de antes, hoje tudo se mistura, em especial às roupas. Todo mundo curte de tudo, o cara numa noite vai ouvir um reggae, depois um rap. No outro dia vai ao pagode. Antes não, cada tribo tinha um determinado gosto musical e seu visual. Era olhar e identificar”.

Na edição 1627 da revista Veja do dia 8/12/1999, o jornalista Celso Masson comenta mais sobre esse fenômeno Cybermanos e as brigas com seus maiores rivais: os Skatistas.

Crédito foto: www.erikapalomino.com.br

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