sábado, 11 de setembro de 2010

Skate: Uma filosofia sem tanta filosofia

"Eles preferem andar em quatro rodas. Mas, seus "carros" não tem portas ou janelas. Tampouco, gastam com combustível, a não ser suas próprias energias. Sentem o vento na cara. Percorrem calçadas e estradas com certo ar de liberdade. Não são as roupas ou a linguagem que os tornam parecidos. A única coisa que, verdadeiramente, os identifica são seus gratos companheiros - os skates"
"Eu preferia o ar do que aquilo artificial dos carros", revela Bruno Mazzino. Ele começou a andar de skate já tarde, se considerarmos a maioria de seus colegas. Foi aos 19 anos que sentiu pela primeira vez a leveza e a adrenalina de estar em cima de uma tábua com quatro rodas. Falando assim, parece que estou desmerecendo, mas é justamente dessa forma que muitos dos skatistas se referem ao seu modo de locomover e viver.
Marlon Breato tem recordações de seu pai que era também praticante. Passaram juntos momentos que eram traduzidos em longos passeios pela Avenida Paulista e no centro de São Paulo. Considera fundamental, entre os skatistas, a prestatividade quando um dos colegas se machuca e a atenção individual quando estão em meio aos automóveis. "Hoje isso é esporte. Comecei pequeno e já tive vários machucados pelo corpo. Com o tempo fiz manobras que achava impossíveis antes. Agora, vi que não são. Skate é prática. Algo que ficou, mesmo que meu pai tenha partido."
O última dessa tribo é tem apenas 17 anos. É, certamente, o que mais pode ser caracterizado como skatista. Calças largas, boné e algumas tatuagens pelo corpo. Incentivado por seu primo, o jovem deu as primeiras "rodadas" (como ele mesmo falou), aos nove anos. Gostou, se aperfeiçou e até participou de algumas competições. Percebeu que era por divertimento e não por qualquer outro motivo que fazia, então abandonou as disputas oficiais. Lucas Pedro Moura é o nome do "cara", como é chamado por seus companheiros. "Se você perguntar qualquer coisa referente a skate vai perceber que todos dirão algo como: 'Não tem muita neura, é gostoso de andar. Uma filosofia sem muita filosofia' ele ri e eu aprendo.
Marlon, Lucas, Bruno e mais sete camaradas se encontram todas as sextas-feiras e sábados após às 19 horas na Avenida Paulista para reunir os papos e curtir as rodas. Ficam lá até por volta das onze. Eles contam que já passaram perigos por perder a noção de que horas eram. "A falta da luz é algo que prejudica nosso esporte, por isso que temos que ter certos horários", comenta Bruno. Se conheceram na dita avenida e dizem que amizades feitas como skatistas duram mais que muitos dos namoros que tiveram. Mulheres estão presentes no meio, porém a presença masculina ainda é predominante.
Uma pergunta que não poderia faltar foi sobre a reforma da prefeitura, que tinha como objetivo tirá-los da Paulista. A reforma acabou tendo o efeito contrário. Deixou os espaços ainda mais propícios para as manobras que fazem. Então, me responderam, sem pensar: "Foi muito bom. Aprovamos".
As pessoas retratadas aqui não têm a mesma profissão. Bruno é publicitário, Marlon é engenheiro químico e Lucas ainda não sabe o que irá prestar no vestibular. Não compartilham do mesmo estilo musical: um é rock, outro é black music, e o último deles é o mais "mpb" do trio. Eles podem até se parecer por causa das calças largas, mas isso ainda é pouco para os definir como uma tribo. O que os iguala e os junta é mesmo o skate, simples e gratificante, como todos disseram.

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