sábado, 20 de novembro de 2010

Experiências do outro lado do mundo


Aracy Tieme conta as dificuldades que passou quando saiu do Brasil para ir trabalhar e morar no Japão
                                                                                             
O ser humano possui uma necessidade de reunir-se em grupos. O sociólogo André Arruda nos disse em uma entrevista postada anteriormente que: Os seres-humanos não vivem isolados. Na convivência cotidiana é natural que o homem vá buscando vínculos e níveis diferenciados de interação (...) É reconfortante saber que você pertence a um grupo, que não está sozinho no mundo”. Quando ocorre uma mudança brusca em nossas vidas e passamos a conviver com uma cultura completamente diferente, temos que saber lidar com os novos costumes de um povo, principalmente se este for de um país localizado do outro lado do mundo do que estamos habituados.
            E isso ocorreu com Araci Tieme Hamaguchi, 55 anos, filha de japoneses que vieram buscar no Brasil condições melhores de vida, depois de desistir da faculdade de enfermagem no Brasil, resolveu ir trabalhar no Japão. Sua primeira ida ao país em 1994, foi a Nagano para trabalhar em um Hotel de temporadas de Esqui como garçonete. No fim da temporada este mesmo hotel mandou Araci e o grupo de brasileiros que estavam com ela a Kyoto, para trabalhar em um outro hotel da companhia. Com apenas dois meses de trabalho ela recebeu um cargo como interprete para o grupo de brasileiros que chegavam ao Japão. “Eu fiquei no lugar de um brasileiro que tinha ido embora porque não agüentava mais a pressão de ser estrangeiro”. Mesmo já conhecendo os costumes e a língua dessa outra tribo, Araci sentiu dificuldades e sofreu preconceito por ser brasileira. Então, após seis meses de experiência, ela voltou ao Brasil.
            Dois anos se passaram e Araci Tieme resolveu tentar a vida de novo no Japão, pois encontrou uma oferta boa de emprego dessa vez em Osaka. Chegando à cidade, ela e mais um grupo de 20 brasileiros tiveram que passar a noite num quarto pequeno, sem janta e com suas malas confiscadas pela agência que os levaram ao país “Lá parecia um bordel, uma boate. Ficamos a noite inteira sem comer”.
As dificuldades não pararam por ai. No outro dia, Araci e mais algumas mulheres foram levadas para trabalhar em um Frigorífico, na câmara fria: “Foi uma decepção enorme. Na agência nos falaram que íamos trabalhar em uma fábrica, chegando lá não era isso que falaram.” Depois de alguns dias de trabalho, elas resolveram recusar o emprego.
Então, essa agencia mandou Araci e o grupo de mulheres para trabalhar na parte de embutidos. Chegando lá elas perceberam que só havia trabalhadores japoneses. E sofreram mais preconceito: “Tudo que acontecia de errado caia sobre nós, porque éramos estrangeiras” Araci não aguentou a pressão, e pediu para trabalhar em outra empresa, que fabricava marmitas. Nesta fábrica ela trabalhava muito mais, e se fizesse hora extra não tinha direito a jantar.

            Um mês se passou e Araci percebeu que aquela jornada de trabalho estava fazendo mal a sua saúde: “Eu estava desnutrida e com gastrite” Percebendo seu estado causado por duras horas de trabalho e má alimentação, Araci resolveu sair da fábrica para trabalhar na província de Oyama num restaurante que servia comida brasileira: “Lá era bom porque a maioria das pessoas que frequentavam o local eram brasileiros. Uma vez ou outra apareciam japoneses e eles estranhavam o feijão salgado, porque no Japão só existe feijão doce’’
            Nesses anos no Japão, Araci Tieme percebeu que apesar dos japoneses terem fama de “frios” são um povo muito alegre: “Tudo para eles é motivo de festa e alegria, desde a boa colheita das safras até a comemoração do ano novo com carros alegóricos enfeitados com flores e luzes” O que também chamou a atenção foi a preocupação do país com a natureza: “Cada dono da calçada é obrigado a limpar todos os dias a sua parte. A prefeitura distribui para cada casa um calendário indicando qual o lixo que será retirado no dia, na segunda é vidro, na terça plástico, quarta papel e assim por diante, todos são obrigados a fazer sua parte e se todo lugar fosse igual lá acho que não teria poluição no mundo”
            Longe do Japão há quase 10 anos, Tiemi disse que apesar do preconceito que sofreu com alguns japoneses e se tivesse uma nova oportunidade voltaria para o Japão: “Para viver eu prefiro lá, porque apesar da alimentação ser cara, tudo é fácil e pratico. E em matéria de segurança e conforto também. Aqui no Brasil têm muita violência”. Para ela a cultura e modo de viver dos japoneses é um grande aprendizado.
                                                                                                                                                                                                                                 

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