sábado, 25 de setembro de 2010

Por isso não provoque, não é cor só de rosa choque!

Eu confesso que estava sem uma tribo urbana, não por vontade ou desleixo, mas porque a tribo que entrevistaria me deixou sem palavras (literalmente!). Então, para esparecer e esquecer as dificuldades de ser um estudante de jornalismo, fui ao shopping, e é nesse território moderno que encontramos grupos ou pessoas distintas. Sentado, meio cabisbaixo, ouvi uma conversa que, inicialmente, nada me dizia respeito. Porém ela, ou melhor, elas se transformaram numa oportunidade de eu sair da tribo dos sem pautas.
Elas não são necessariamente novas, não falo da idade, e sim da existência como tribo . Fizeram sucesso na década de 90. Foram tema de filmes. São vistas como fúteis e seu traço mais marcante continua sendo sua cor, o cor-de-rosa. Eis as donas dos palcos, ou melhor, dos saltos: as patricinhas.
Mônica me tratou super bem, me deu três beijinhos, falou algumas gírias e logo me apresentou a sua inseparável amiga (perdoem o clichê), a Luciana, ou simplesmente, Lú. Estudaram juntas, viajaram juntas e, embora cada uma com seus 18 anos, elas têm muitas histórias pra contar. Entretanto, elas tem mais que fofocas para trocar. Mô e Lú falaram que as patricinhas de hoje não são como antes, que só falavam de moda ou coisa de “mulherzinha”, a tribo também fala e entende de futebol e discutem em quais políticos irão votar e o porquê.
“Creio que ainda nos veem como simples garotas ricas que só desfilam. Eu gosto de me vestir, mas não sou só isso, uma pelúcia rosa como já me chamaram. Ao contrário, se você reparar ninguém se veste só de uma cor, isso hoje já é algo estereotipado", afirma Luciana. E, de fato, reparando nelas não notei nenhuma falta de assunto e nenhuma característica tão exagerada como retratava o famoso filme “As patricinhas de Beverly Hills”. O que há em comum a todas as patricinhas, de todas as gerações, é o fato de andarem sempre bem vestidas (em geral com roupas de marca), ter um rosto maquiado, um cabelo bem cuidado, enfim, de se preocupar com a aparência. Agora, é preconceito acharmos que são meramente uma escova, um salto e um batom.
Mônica me falou que não tem medo de a acharem fútil ou, como hoje associam, uma periguete (termo usado, principalmente, no meio funk para nominar garotas que não prestam), pois sabe que quem a critica não a conhece pessoalmente e que ela é verdadeira consigo. “Não fico por aí feia ou desarrumada para acharem que sou uma boa pessoa ou inteligente. Sou isso, perfumada e que sabe valorizar coisas além de roupas”. Eu ri do perfumada, mas não neguei sua verdade. Luciana Albertoin estuda publicidade e propaganda e Mônica Marcatto faz curso pré vestibular para arquitetura. Fazem academia, mas também dedicam tempo ao curso de massoterapia e gastronomia, respectivamente. Estudam inglês, "Isso é básico como roupa preta", brinca Mônica, e descobri que Luciana é apaixonada por cinema nacional, em especial do filme "Bejnamim", inspirado na livro homônimo de Chico Buarque. E por falar em música declaram: "Nada de Penélope Charmosa, gostamos mesmo é da Beyonce..."
Meus caros, falar com Mô e Lú não me rendeu tratados de filosofias, nem me aborreceu com demasiada frivolidade. Foi um papo bom que em alguns momentos me fez também desmitificar aquela ideia conhecida, fruto de quando julgamos os outros pelo que vemos externamente. Ter um pré conceito (daí a palavra), antes de conhecermos alguém é limitador e cruel. Essa tribo de duas me fez notoriamente voltar para o conforto do meu lar não só mais perfumado, como também feliz por ter um texto para apresentar. Um texto que só foi possível graças a generosidade que poucos sabem que uma patricinha pode ter. No melhor sentido da palavra: Obrigado!

2 comentários:

  1. Adorei o seu texto! Muito bem escrito e agradável de ler.
    Achei muito interessante a maneira como você tratou essa tribo das Patricinhas, não só mostrou um outro olhar sobre essas pessoas, como também desconstruiu o seu esteriotipo.

    Parabéns Henrique!
    Um texto leve, divertido e inteligente!!

    E uma observação: A Penélope Charmosa pode ser Patricinha, mas ainda sim é muito charmosa!!! E eu gosto muito dela - mesmo sem patricinha, claro. ;)

    Beijos...

    Luisa.

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